domingo, 5 de fevereiro de 2012

Educação falida gera violência

A crescente onda de violência entre adolescentes que tem assustado Belém justamente no período em que deveriam estar no banco da escola recebendo ensinamentos, que contribuiriam para transformá-los em cidadãos íntegros, tem preocupado pais e deixado professores em alerta. É preciso atenção! Pois como determina um dos imperativos apresentados pelo sociólogo Paulo Freire em seus vastos estudos sobre o povo brasileiro: “se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.
Ainda assim, para os envolvidos, as agressões e ataques têm sido uma forma de auto-afirmação perante uma sociedade que está cada vez mais hostil, mas eles não levam em conta os riscos de seus atos. Demonstração de força por meio de confrontos e a necessidade de aceitação pelo grupo ou tribo ao qual pertencem podem ser os principais propulsores para o desencadeamento de tais conflitos. Pelo menos é o que afirma a pós-doutora em Psicologia da Educação, Ivany Porto. “O sistema educacional está falido. O atual modelo não permite interação entre criança e ambiente escolar e expulsa os jovens da sala de aula”, explicou.
Para ela, muitos pais estão abdicando da responsabilidade de educar o filho, atribuindo a outras instituições o papel de repassar os ensinamentos de ética, moral e conduta. “Os tempos mudaram, por isso é preciso que a família comece a orientar os filhos partindo dos novos paradigmas da sociedade. Em tempos de internet, videogames e outros gadgets, o ato de atribuir a terceiros o papel que lhes é de direito pode contribuir para desvios de conduta e problemas de ordem psicossocial”, resumiu.
OCORRÊNCIAS
De acordo com o levantamento feito pela Companhia Independente de Policiamento Escolar (Cipoe), em 2011 foram registradas 441 abordagens e verificações em escolas da região metropolitana de Belém. A ocorrência de maior frequência neste período foram ameaças, 80 no total, seguido de roubo, com 75. Alguns números preocupantes foram apontados no relatório da Companhia, entre eles os casos de porte de arma de fogo, somando 5 casos, e o tráfico de entorpecentes, 12 ocorrências registradas.
Os números são considerados baixos pela Polícia Militar, conforme destacou o major Marcos Barros, responsável pela Cipoe. “Se levarmos em conta o universo de estudantes matriculados nessas escolas, verifica-se que o número de ocorrências é baixo se comparado com o total da população em geral. Outro fator importante é que registramos menos de uma ocorrência por escola, ou seja, tem escola que passou o ano todo sem registro algum” explicou.
Como forma de prevenção e controle, o major enfatizou as ações do governo em parceria com outras instituições que pretendem combater a violência escolar, como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), que no ano passado formou cerca de 60.000 crianças e adolescentes. Segundo ele, a Cipoe atua com 18 viaturas e 10 motos, além do policiamento a pé nas escolas, cerca de 400 estaduais e 300 municipais da Grande Belém.
TRAJETÓRIA
Desde o momento em que sai de casa, em geral por volta de 12h15, em direção à Escola Dom Pedro II, localizada na travessa Lomas Valentina, no Marco, o jovem Pedro Oliveira (nome fictício), 16 anos, enfrenta uma verdadeira maratona. Morador do bairro do Bengui, ele conta que o ônibus está sempre lotado nesse período. Vai em pé. Não reclama. Afinal, é o único jeito de chegar até a escola. “Nem penso em estudar aqui no bairro, meu negócio é em Belém”, disparou o adolescente.
Ele é um dos garotos que optou por não estudar próximo do local onde reside. Engana-se quem pensa que a motivação é a busca por um ambiente escolar de qualidade. No caso do rapaz e seu grupo de amigos, trata-se apenas de ficar longe da vista dos pais. “Pelo menos posso fazer o que quiser, inclusive chegar mais tarde em casa e ainda coloco a culpa no trânsito”, comentou Pedro.
Só em janeiro, o garoto já se envolveu em mais de três confusões envolvendo escolas ditas “rivais”. “Não tenho medo, enfrento mesmo, para honrar minha farda. Ninguém vai ficar me zoando. Minha galera vai para cima e toca o terror”, contou o garoto. De acordo com ele, para ter respeito no grupo do qual faz parte, precisa andar na frente do colégio rival com a farda. “Quem faz isso é o maioral”, completou. Segundo o adolescente, um dos pontos de encontro da “galera” é uma parada de ônibus localizada na avenida Almirante Barroso, na esquina da passagem Santo Antônio.
Neste local, as viaturas do Cipoe já registraram brigas, arrastões e até pequenos furtos. A estudante Ingrid Ramos mora próximo ao local e cotidianamente vai até a parada de ônibus no horário da saída do turno da noite, para ir à faculdade. “Já vi muita coisa, outro dia um deles até tentou me assaltar. Fui mais rápida e peguei a primeira condução que passou. Levei um susto”, desabafou.
CONFRONTO
Na semana passada ocorreu uma briga entre estudantes da escola Estadual Dom Pedro II e da escola Jarbas Passarinho, localizada atrás do Bosque Rodrigues Alves. O conflito começou quando duas garotas da primeira instituição teriam ido acompanhadas dos namorados e de outros 15 garotos para fazer um “arrastão” em frente à segunda. De acordo com vítimas, os alunos teriam entrado em confronto físico, as alunas do Jarbas Passarinho teriam sido forçadas a tirar a blusa para serem pichadas e até mesmo um roubo teria sido praticado.













(Diário do Pará)

0 comentários:

Postar um comentário